terça-feira, 25 de setembro de 2007

Marianna Leporace: Entrevista

ENTREVISTA: MARIANNA LEPORACE

Marianna Leporace é dona de uma vozes mais afinadas da nova geração de cantoras da MPB e possui uma técnica vocal perfeita. Presença de palco e carisma também não lhe faltam. “Falas Musicais” escolheu MARIANNA LEPORACE para abrir essa série de entrevistas com nomes da música brasileira.

- Você vem de uma família extremamente musical (Gracinha, Fernando). Como foi achar o seu próprio caminho no meio de tanta gente talentosa ?

ML: Acho que o fato de ter nascido e crescido num ambiente musicalmente rico, com tantos talentos em volta, (além de Gracinha e Fernando, meus pais também eram ligados à música e meus irmãos que não seguiram carreira também são extremamente musicais) me instigou a procurar outros caminhos antes de me render ao apelo natural da música. Eu achava que devia buscar um canal artístico diferente, criar uma historia só minha. Por isso comecei minha carreira fazendo teatro ainda bem menina e fui fazer faculdade de jornalismo, que era uma área que me interessava muito também, com certeza por influencia do meu pai que era radialista e jornalista. Durante o curso, trabalhei em musicais infantis e estudei na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras). Mas não tive muita saída e acabei abraçando a música profissionalmente assim que me formei. Continuei fazendo teatro paralelamente, mas a musica era a veia mais forte. Só que, talvez pelo histórico familiar e também por minhas próprias exigência, demorei muito pra me considerar uma cantora de verdade. Achava que devia me preparar muito bem, estudar bastante canto, antes de encarar o mercado profissional para justamente construir o meu lugar, o meu caminho. E foi exatamente o que fui fazer. Não foi fácil achar um caminho próprio, uma linguagem mais pessoal, mas acho que estou conseguindo construir isso aos poucos, a cada trabalho.

-A sua carreira começou com os jingles. Conte-nos sobre essa fase.

ML: Na verdade os jingles fizeram parte desse período de “aprendizado do oficio”, que falei. Assim que me formei, uma amiga da faculdade, que estava enveredando pela publicidade, me indicou pra um estúdio de jingles e daí fui fazendo contatos e conquistando espaços e fiquei um bom tempo trabalhando em gravações, não só de jingles, mas de tudo relacionado ao reino do canto. Foi uma escola muito interessante que me ajudou muito a desenvolver todas as técnicas que emprego hoje em dia nas gravações dos meus discos. Até o processo de memorização de letras e diversos repertórios eu devo a esse período intenso nos estúdios.

-As primeiras gravações. Quando e quais foram?
ML: Meu primeiro registro profissional foi no disco “Aldeia” que meu irmão Fernando dividiu com o compositor e pianista Mauricio Gueiros, em 1988. Gravei a música “Samba em Inglês” do Mauricio. Depois participei dos discos dos compositores Tião Neto (que era baixista de Sergio Mendes e Tom Jobim) e Guilherme Hermolin, até chegar em 1993 na gravação da música “Paraíso” de Danilo Caymmi e Dudu Falcão pra novela “Mulheres de Areia”. Essa música chegou a tocar bastante nas rádios, mas naquela época eu ainda não me reconhecia como cantora. Nessa altura eu cantava em dois grupos vocais (Zinnziver e Maite-Tchu) que foram escolas importantíssimas na minha carreira, mas não me via ainda desenvolvendo um trabalho solo.

-Você já compôs alguma música ?

ML: Já “cometi” algumas letras (risos). Falo isso rindo porque acho compor uma arte incrível e adoraria ter esse dom. Mas tenho quatro parcerias despretensiosas com meu irmão Fernando, Emerson Mardhine, Guilherme Hermolin e Gilberto Figueiredo. Só que todas continuam completamente inéditas e a única que ganhou vida nos palcos de fato foi a que fiz com Fernando, chamada “Até a Noite Acabar”.

-Fale-nos um pouco sobre o seu trabalho com Willians Pereira.
ML: Willians foi e continua sendo um grande encontro musical em minha vida. A gente se conheceu num belo show em homenagem ao compositor Sidney Miller realizado na Sala Funarte em 2002, com vários artistas. Logo depois ele foi assistir meu show com Sheila Zagury na Sala Baden Powell e em seguida me ligou dizendo que queria fazer um trabalho comigo. Eu topei na hora e começamos a pesquisar o repertório. Foi mais ou menos um ano e meio de trabalho entre pesquisa e ensaios e no fim de 2004 lançamos nosso primeiro CD chamado “A Canção, a Voz e o Violão”, onde homenageamos nossos instrumentos. Nunca mais nos separamos e agora estamos envolvidos com a pesquisa e os arranjos do segundo CD do duo.

-E o projeto com o Folia de Três?

ML: Esse é outro casamento antigo (risos). Cacala Carvalho e Eliane Tassis são minhas amigas há muitos anos e fomos a última formação feminina do grupo vocal Maite-Tchu, que foi muito atuante na década de 90.
Desde que o grupo acabou em 1998, alimentávamos o desejo de cantar juntas. Mas
os projetos pessoais, os interesses e objetivos de cada uma adiavam essa proposta até que em 2003 resolvemos investir de verdade no trio. Escolhemos como ponto de partida homenagear um único compositor e em 2005 lançamos o CD “Pessoa Rara” em homenagem aos 60 anos de Ivan Lins, pela gravadora Mills Records. O trio também está pesquisando repertório pra um próximo trabalho.

-O novo trabalho: Canções de Baden Powell. Fale-nos sobre ele.

ML: Esse disco se chamado “Marianna Leporace Canta Baden Powell”, foi um convite que recebi do produtor japonês Kasuo Yoshida, um apaixonado pela música brasileira. Ele vem ao Brasil umas três vezes por ano gravar artistas brasileiros pra lançar no Japão e eu já havia participado do disco “As Filhas da Bossa” produzido por ele. Quando ele me convidou pra gravar um disco solo em homenagem ao Baden, fiquei muito feliz e realizamos esse projeto no final de 2005, com músicos e arranjadores brasileiros.
O CD foi lançado no Japão em 2006, pela gravadora Toy’s Factory Music e licenciado no Brasil pela Mills Records em 2007.
Os arranjos do disco são do Yoshida, de Alain Pierre e dos filhos do Baden, Philippe Baden e Marcel Powell e tive um time de feras tocando comigo, além das participações de meus parceiros de estrada, Willians Pereira e Folia de 3. É um trabalho que me deixa muito contente e temos feito muitos shows por aí, inclusive agora me preparo para viajar com o Projeto Pixinguinha em outubro.

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